domingo, 26 de dezembro de 2010

O legado de Lula


Lula desconstruiu o padrão político-gerente
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Daqui a uma semana Lula deixa o Planalto para ir para "as ruas", como ele mesmo definiu na sua despedida em cadeia nacional. Apesar das constantes e inúteis comparações entre o seu legado e o legado de FHC, o atual presidente deixa heranças morais muito mais amplas do que a redução da pobreza. Após sua gestão, a forma de enxergar a política mudou drasticamente.

Em sua primeira campanha, Lula foi considerado iletrado, sem experiência e de pouca cultura para representar o Brasil. Numa perspectiva política aristotélica, em que se deveria escolher o melhor entre os cidadãos pra representá-los, Lula sempre foi a pior opção. Revelávamos assim o nosso preconceito cultural refletido na oposição educação X capacidade intelectual.

O melhor para subir a rampa deveria ser aquele que somasse uma formação sólida, clássica, de berço. Lula seria um desastre. Nem inglês o cara sabe falar! Como pode? Tanto pôde que em sua segunda campanha esse tipo de argumento foi menor e caiu de podre em 2010. Enfim, desvinculou-se política de currículo profissional, trazendo o tema para o campo da representação. A necessidade hoje não é mais mostrar uma melhor formação, mas sobretudo uma afinidade ideológica, de valores e de perspectivas. Enfim, afinidade política.

Na campanha de 2010, de nada adiantou a velha propaganda, já batida, mostrando a formação, grandes feitos, a família, a tradição. E a contra-propaganda foi no mesmo tom. De nada adiantou gritar a inexperiência política ou a falta de conhecimento sobre o passado do adversário. Esse foi o maior legado de Lula e o que o sustentou no poder. Foi reformular a noção de "preparo político", retirando o peso acadêmico e classista que pesava sobre ela. Em um país de analfabetos, Lula obteve amplo respaldo.

Para o futuro, fica a necessidade de se construir bases políticas e não mais gerenciais para uma candidatura. Não se trata de projetos de engenharia ou metas desenvolvimentistas, mas o que se quer construir enquanto país. Porque, como vimos nos últimos oitos anos, o modelo de gestão pode permanecer o mesmo, mas a questão principal é o direcionamento dado a este modelo.

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"Posso não concordar com uma palavra sua, mas lutarei até à morte para que tenha o direito de dizê-las" - Voltaire.