sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A esquerda que a direita gosta

Ouvi a expressão "a esquerda que a direita gosta" durante uma reunião do centro acadêmico da faculdade. Desde que entrei na ECA já vi centenas com este perfil e, nos últimos dias, eles têm ganhado os jornais como nunca.

Um dos principais períodos da Revolução Francesa foi chamado de Terror. Terror porque os conceitos de liberdade, igualdade e fraternidade passaram a ser empurrados goela abaixo de todos os "citoyens" franceses. Qualquer um que discordasse dos valores da revolução era fatalmente condenado; era um párea, um traidor e merecia o ostracismo, a guilhotina.

Excessos à parte, não é diferente o que fazem hoje os que ateiam fogo em carros de reportagem, agridem repórteres, tentam atentados contra políticos (por mais toscos que eles sejam). São pessoas que ostentam uma bandeira que só se sustenta em condições específicas. "Sou a favor da liberdade de imprensa, mas desde que ela não fale mal de mim, não me critique". Até porque são ações nobres. Os equívocos são consequências da defesa incondicional dos direitos fundamentais do homem e o cidadão. O outro... Ah.. o outro é um ser mesquinho que calcula tudo premeditadamente para fazer o mal.

Está aí o ingrediente fundamental da receita para uma "esquerda que a direita gosta": maniqueísmo. Adicione então um pouco de presunção, de ignorância e de heroísmo quixotesco, e teremos então uma esquerda radical,  cheia de preconceitos, nada aberta ao debate e convicta de que suas ações podem mudar o mundo, nem que seja na base da porrada. Primeiro bate, depois pergunta.

Por causa de pessoas assim, Kassab de réu passou a vítima no dia do aniversário de São Paulo; Pinheirinho, de comunidade carente, virou antro de agitadores em rede nacional e a USP até hoje não conseguiu mostrar que a questão da PM não é só a Maconha. Parabéns a todos os envolvidos.



*Em tempo: Antes das comparações piegas com a ditadura militar e com o nazismo, gostaria de lembrar que nas manifestações pela morte de Vladimir Herzog, tudo transcorreu sem nenhum atentado sequer. A manifestação, em plena ditadura militar, aconteceu graças à inteligência de todos que se reuniram na Praça da Sé e da consciência de uma causa maior. O recado foi dado e o regime caiu tempos depois.



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"Posso não concordar com uma palavra sua, mas lutarei até à morte para que tenha o direito de dizê-las" - Voltaire.